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Arte e Cultura

Biografia de Tom Zé é convite para imersão na discografia singular do último romântico tropicalista


Capa da edição brasileira da biografia 'Tom Zé – O último tropicalista'

Luiza Sigulem com arte de Gustavo Piqueira e Samia Jacintho

Resenha de livro

Título: Tom Zé – O último tropicalista

Autor: Pietro Scaramuzzo

Edição: Edições Sesc

Cotação: * * * 1/2

? Prefaciada por David Byrne e lançada em outubro de 2019 na Itália, a biografia Tom Zé – O último tropicalista, escrita pelo jornalista italiano Pietro Scaramuzzo, está disponível no Brasil, com outra capa, desde a segunda quinzena de dezembro de 2020, em edição do selo Sesc.

Mais do que biografia convencional, feita com o intuito de investigar e contar a vida do artista baiano, o livro tangencia o formato de discobiografia. Scaramuzzo expõe a alma de Tom Zé a partir da análise minuciosa da obra fonográfica do artista.

Ao detalhar a gênese de cada álbum, o escritor traça o longevo percurso de Antônio José Santana Martins desde que ele veio ao mundo em 11 de outubro de 1936, na interiorana cidade de Irará (BA).

A fonte primária do autor foi a memória do próprio Tom Zé, com quem Scaramuzzo teve conversas telefônicas semanais durante o período de apuração da história.

Para efeitos documentais, a parte mais substancial da biografia são os capítulos iniciais que repisam os caminhos de Tom Zé – Toinzé, para os pais de família de boa situação social no círculo de Irará (BA) – até a explosão nacional do compositor em festival de 1968 com a apresentação da música São, São Paulo, meu amor.

Nessa parte inicial, o autor perfila Toinzé como menino acanhado, introspectivo, às vezes medroso, um estranho no ninho familiar de Irará (BA), cidade de rígidos códigos morais, como toda localidade do interior.

Usando a música como válvula de escape, Tom Zé saiu progressivamente daquele universo social limitado. Primeiramente, através de idas periódicas a Salvador (BA), cidade grande onde estudou e onde – com o incentivo do primo, o produtor musical Roberto Santana – começou a ganhar visibilidade como cantor e compositor em programas da TV local.

Depois, a travessia definitiva – a rampa para o sucesso artístico – foi a ida para São Paulo (SP), cidade onde Tom Zé se integrou ao movimento tropicalista, se reunindo com Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa (trio com quem já dividira o palco em 1964 em show em Salvador – BA).

Capa da edição original italiana da biografia de Tom Zé

Reprodução

Com narrativa fluente, escrita com objetividade e sem a pretensão de fazer ensaios sobre a obra de Tom Zé, Pietro Scaramuzzo mostra, disco a disco, como o artista foi seguindo fiel ao ideal tropicalista e à pulsão de sempre apontar caminhos sonoros, derrubar fronteiras, enfim, de criar com liberdade, imune aos vícios da indústria da música.

Nessa trajetória, Tom Zé subiu a rampa do fracasso comercial com álbuns que somente seriam valorizados anos depois, sobretudo após David Byrne se deparar casualmente em 1986 com o álbum Estudando o samba (1976) e se encantar com a inventividade do disco, compilando a obra de Tom Zé para CD do selo Luaka Bop e, na sequência, lançando pelo selo álbuns inéditos do artista com The hips of tradition (1991) – o que deu prestígio e visibilidade mundial ao último romântico tropicalista.

Antes de começar contar a história de Tom Zé de forma cronológica, Scaramuzzo inicia a narrativa do livro pelo encontro de Byrne com Tom Zé em 1988 na cidade de São Paulo (SP) – conexão que mudou a vida do artista baiano após anos de ostracismo e desânimos abordados de forma superficial pelo autor.

Livro indicado para quem se interessa mais pela música do que pela vida privada do artista, Tom Zé – O último tropicalista adentra os labirintos da criação desse compositor que faz música e instrumentos para tocar essa música.

Disco a disco, Pietro Scaramuzzo mostra como a centelha da pesquisa e da inventividade sempre impulsionou a obra de Tom Zé, mesmo quando o artista já estava isolado e ignorado na cena brasileira. Nesse contexto, o livro funciona como convite para imersão nessa discografia singular.

E, ao fim da leitura, o conceito de fracasso é redimensionado porque a moral da história é que a música é a vida de Tom Zé. E, nesse quesito, é inegável que, atualmente com 84 anos, Antônio José Santana Martins escreveu história de sucesso improvável para quem conheceu o menino arisco que sofreu bullying na infância, mas que driblou os obstáculos sociais e mercadológicos, vivendo de música e para a música.

G1

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