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Arte e Cultura

Música de Chico César cantada por Juliette no 'BBB21' foi composta no chuveiro em cinco minutos



Cinco minutos e durante um banho. Esse foi o tempo e o lugar que Chico César levou para compor "Deus me proteja". Gravada em 2008, a música disparou em buscas nas plataformas digitais após Juliette cantá-la no "BBB21".

O cantor não assiste ao programa, mas gravou um vídeo agradecendo a sister e ao público. A performance no reality fez a busca da música multiplicar mais de vinte vezes na Deezer.

Em entrevista ao G1, Chico relatou que o crescimento não aconteceu apenas no serviço de streaming, mas também em suas redes sociais, canal no qual os fãs o procuram para relatar que voltaram a ouvir seu trabalho.

"É um relato bem constante e isso é bem legal. A partir do específico você ver um todo. E interessante porque parte de algo espontâneo."

"Não conheço Juliette, nunca a vi, não sei se ela já foi a um show meu. Quero ter a oportunidade de perguntar isso pra ela", afirma Chico, que atualmente passa uma temporada no Uruguai.

Canção de Chico César cantada por Juliette no 'BBB21' foi composta em 5 minutos e embaixo do chuveiro

Reprodução/Instagram

Por lá, além de encontrar alguns artistas regionais, também fez seu retorno aos palcos após longo período de pausa gerado pela pandemia de coronavírus.

"Primeiro dia que fiz um show aqui, fiquei com muito medo do que vi. Acho que é porque vi pessoas vendo o show sem máscara, ao ar livre, e depois quando cheguei no hotel, tive muita dificuldade para dormir. Fiquei quase com taquicardia, nunca tive isso na vida", recorda o cantor.

Uruguai, o oásis na pandemia na América do Sul

No bate-papo, Chico ainda contou que, durante o isolamento, que passou na companhia de seus dois cães e um gato, compôs em torno de 100 músicas, adotou a dieta vegana, emagreceu e iniciou aulas de alemão através de um aplicativo.

"Acho que é horrível o que está acontecendo no mundo, mas já que está acontecendo, e eu estou em casa e tenho um celular, então posso me comunicar, posso estudar, posso fazer lives cantando, lendo meus poemas, sem dinheiro, com dinheiro."

G1 - Você costuma assistir ao 'Big Brother Brasil'?

Chico César - Na verdade, não assisto. Esse "BBB" veio com umas questões assim temáticas, de representatividade. Mas mesmo assim, não é algo que eu assista. Eu soube que a moça cantou, a Juliette, repostei, agradeci, e logo em seguida as coisas foram, vamos dizer, para o bem, fugindo de controle.

As pessoas foram procurar a música. E isso foi muito interessante, porque mostra que há uma dose de imprevisibilidade na indústria cultural. Senão fica parecendo que tem que ser tudo do mesmo jeito, que algumas pessoas já fazem pensando em como se comunicar com o público, e de repente algo lá de 12 anos atrás aparece na voz de uma pessoa e essa voz legitima. Acho muito bom que isso aconteça.

G1 – E como foi para você, que é da Paraíba, vendo sua música levada ao reality por uma paraibana, num momento que ela chegou até a ser criticada pelo sotaque ali na casa?

Chico César - É curioso porque ela tem um gosto musical estético muito peculiar. Porque ela cantou Francisco El Hombre, ("Triste, louca ou má"), cantou "Dona Cila", de Maria Gadu, que é uma canção que Gadu fez pra sua avó quando a avó faleceu, uma mulher negra. Então eu acho que dá pra juntar uns pontos aí, né, de que há vozes que não têm sido escutadas, ou há lugares de fala aos quais tem se tentado silenciar.

Não faz tanto tempo assim o substantivo "paraíba" foi usado pejorativamente para se referir a todas as pessoas de todos os Estados nordestinos pelo presidente da república. E de repente uma mulher paraibana traz um canto de uma música de um paraibano que foi gravado por um paraibano e um pernambucano, símbolo também icônico, o Dominguinhos, e isso viraliza, vai pra um lugar de afeto das pessoas. Isso é muito bom.

Chico César

Reprodução/Instagram

G1 – E como foi o processo de composição desta música?

Chico César - Essa canção eu fiz em 5 minutos tomando um banho antes de sair para um forró em São Paulo. Acho que fui tomar banho com o espírito do forró na cabeça. Quando abri a torneira, começo a cantarolar a música todinha: "Deus me proteja de mim, água, sabonete, e da maldade de gente boa...". Aí liguei do meu telefone celular pra minha secretaria eletrônica do telefone fixo. E cantei a música pra não esquecer. Porque eu senti que era algo precioso que tinha brotado ali naquela espontaneidade do banho, e que eu ia ouvir muita coisa no forró e ia esquecer completamente daquilo.

Aí fui pro forró, dancei, bebi, voltei de madrugada pra casa. Peguei o violão na madrugada mesmo, toquei os acordes e, quando chegava no último verso, resmungava porque não tinha nada ainda. Esse demorou um pouco a vir.

Na gravação original, também tem uma coisa no finalzinho da música, que é minha mãe cantando um bendito de igreja. Muita gente pergunta o que é aquele barulho, é minha mãe, cantando -- já falecida. E Dominguinhos também, já falecido. Então pra mim, tem um significado muito grande porque são duas pessoas muito importantes na minha vida, na minha formação.

G1 – Durante a pandemia, um seguidor seu deixou uma mensagem pedindo para que você seja menos político em suas músicas e você respondeu o rapaz dizendo que todas as canções são políticas. Queria que você falasse um pouco sobre seu processo de composição no geral.

Chico César - Toda opção é política. O problema é que o Brasil entrou num processo de rachadura, como se a placa tectônica do afeto do Brasil tivesse se rompido e uma parte ficou pra um lado e outra parte pro outro. E as pessoas querem muito estar de um lado ou de outro, mas não permitem que os artistas tenham um lado.

Quando eu faço uma música, minha música mais conhecida, "Mama África", é muito político. Estou falando sobre a situação das mulheres, da dupla jornada das mulheres, e que ainda ganham menos na jornada lá como empacotadeira, que seja, com menos possibilidade de ascensão. Quando escolho fazer um refrão numa música de amor, "Amarazáia zoê", é uma escolha política. De alguma forma estou querendo provocar os ouvintes de canção de amor a abrir sua sensibilidades. Essas são as nossas escolhas.

Às vezes sou mais explicito, e digo "respeitem meus cabelos, brancos". Ou escolho cantar Mandela, Benazir Butho, escolho dizer Salif Keïta e Prince, que são dois artistas negros, descendentes da África, dentro da canção de amor. Tudo isso é política. É só que as coisas estão tão à flor da pele que agora machucam o ouvinte, às vezes, que não se identifica com você.

O rapaz, nesse caso, ele pediu de uma forma educada, mas aquela educação que quer controlar o outro. E eu respondi: "não sou seu entretenimento". Eu acho que a função da arte é provocar, é alertar, é inquietar principalmente. Mais do que indicar um caminho, é mostrar que há muitos caminhos.

G1 – Ao longo da pandemia, a arte, o entretenimento, conseguiu segurar as pessoas para cumprir a quarentena de uma forma mais leve. Como foi esse período para você? Entre perdas e ganhos, como avalia esse período longe dos palcos?

Chico César - Olha, eu ganhei uma oportunidade de estar mais perto de mim mesmo durante mais tempo. Isso me fez compor muito. Eu compus nessa pandemia algo em torno de 100 músicas. Umas 80 sozinho. Aí fiz umas 20 com Zeca Baleiro, porque a gente vai fazer um trabalho juntos.

Já estava sem álcool desde o Réveillon de 2019 para 2020, continuei sem álcool. Ali pelo quarto, quinto mês, me tornei vegano, coisa que nunca imaginei ou desejei na vida. Entre perdas... perdi quilos, emagreci.

Continuei fazendo pilates virtual, ganhei melanina porque fiquei em casa tomando sol, tá vendo que estou mais preto mesmo.

E comecei a estudar alemão pelo Duolingo. Já estou na minha aula de número 200 e pouco...

Eu acho que é horrível o que está acontecendo no mundo, mas já que está acontecendo, e eu estou em casa e tenho um celular, então posso me comunicar, posso estudar, posso fazer lives cantando, lendo meus poemas, sem dinheiro, com dinheiro.

G1 - Esse crescimento nas plataformas com "Deus me proteja" te obriga, de alguma forma, a lançar novos projetos? Material, pelo o que você contou, tem de sobra, né?

Chico César - Acho que não já. Porque as pessoas estão consumindo algo que já está pronto. Obviamente depois desse ano de nós todos mais presos e eu tendo produzido tantas canções, eu quero lançar.

Quero lançar um disco com Zeca Baleiro, tem um projeto de circular com Geraldo Azevedo, mas pelo andar da carruagem da vacina no Brasil isso vai ser lá pra depois de agosto. Aqui no Uruguai estou aproveitando pra encontrar músicos da Argentina e do Uruguai que estão por aqui, quem sabe desses encontros nasçam algumas canções, algumas coisas.

Há um convite para ir em maio a França, em Paris, mas isso também está dependendo de como que caminha a vacinação. E tenho com essas minhas canções também, e a vontade de fazer um disco em algum momento desse ano. Quero fazer.

Chico César

Reprodução/Instagram

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