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Amazônia

“Vivemos na ponta da bala”: 2022 já superou as mortes no campo em comparação a 2020


Segundo Alessandra Farias, uma das coordenadoras da campanha e membro da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, a ideia é sensibilizar a população brasileira para o aumento da violência no campo durante o governo Bolsonaro. “Queremos contribuir com a resistência dos povos no campo, dando visibilidade às suas histórias e, assim, ajudar a fortalecer redes de articulação e apoio, unindo organizações da sociedade civil às comunidades lá na ponta, as mais impactadas no atual contexto”, diz.

Evento destaca a brutal ofensiva contra o povo Guarani Kaiowá no MS

O lançamento também contou com a presença de Simão Vilhalva, representante da Aty Guasu, a Grande Assembleia Guarani Kaiowá – povo este que tem sofrido uma série de ataques violentos no Mato Grosso do Sul.

Ismael (ao centro) e Simão Guarani Kaiowá (à direita) durante abertura de evento da CPT

Os episódios de violência se amontoam desde maio passado, quando do assassinato do jovem Guarani Kaiowá Alex Lopes, de 18 anos, nos limites da Terra Indígena (TI) Taquaperi, em Coronel Sapucaia (MS), divisa com o Paraguai. Dali em diante, houve várias retomadas indígenas e a tensão com fazendeiros vizinhos no cone sul do estado escalou de vez.

Desde o fim de junho passado ocorreram incursões letais de agentes de segurança, inclusive com tiros de grosso calibre vindos de um helicóptero da Polícia Militar do Mato Grosso do Sul e com a morte do Guarani Kaiowá Vitor Fernandes, no chamado ‘massacre de Guapo’y’; investidas de fazendeiros contra uma retomada em Naviraí (MS); uma emboscada que resultou na morte de outro Guarani Kaiowá, Márcio Moura, em Amambaí; e até mesmo ameaças de uma nova chacina, desta vez em uma escola indígena dentro da TI Amambaí.

“Os ataques seguem em vários territórios… nenhum dos agressores foi preso, mas temos três lideranças Guarani Kaiowá presas”, afirma Vilhalva. “Eu sei bem o que é a violência contra nós, tenho até hoje uma bala alojada no meu peito, perto do coração, por causa de um ataque que sofremos anos atrás… nós resistimos, mas entristece demais, revolta”, diz.

Em 2022, assassinatos no campo já superam o total ocorrido em 2020 

Ainda no evento ocorrido em Brasília, Andréia Silvério, uma das coordenadoras da CPT, apresentou dados preliminares – e preocupantes – da situação atual dos conflitos no país.

Para se ter ideia, o monitoramento da organização aponta que a pistolagem responde por quase 40% dos casos de violência contra pessoas e famílias camponesas em 2022. Segundo os mesmos dados, só nos primeiros seis meses de 2022 o número de assassinatos derivados de conflitos no campo no Brasil – 25 até aqui – já supera o total de mortes em todo o ano de 2020, quando ocorreram 20 homicídios.

“O não-reconhecimento dos direitos dos povos do campo, da floresta e das águas, o alinhamento do poder Executivo aos interesses do capital e do crime organizado e a impunidade dos crimes no campo são as principais causas dos conflitos”, diz Silvério.

A análise dos dados sobre violência no campo na última década aponta um crescimento recente, segundo a CPT, atingindo mais de cinco milhões de pessoas só nos últimos dois anos. Os assassinatos aumentaram 75% e os casos de trabalho escravo cresceram 113% em 2021, ainda de acordo com a organização.

Mapa dos Conflitos

A Agência Pública tem destacado as nefastas consequências dos conflitos envolvendo povos e comunidades tradicionais na última década.

Feito em parceria com a CPT, o Mapa dos Conflitos revelou que mais da metade dos episódios violentos documentados no Brasil entre 2011 e 2020 ocorreram na Amazônia Legal. Mais de 100 mil famílias foram impactadas em cerca de sete mil ocorrências de conflitos na região no período.

Ainda entre 2011 e 2020, houve mais de duas mil vítimas de variados conflitos, incluindo o avanço de garimpeiros e de mineradoras, disputas fundiárias e por recursos naturais, entre outros tipos. Ao todo, ocorreram mais de 300 assassinatos ligados a disputas na Amazônia no período.

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