Os eventos do 7 de setembro do ano passado em Brasília têm sido lembrados como uma advertência para os responsáveis pela segurança dos principais prédios da Esplanada dos Ministérios e da Praça dos Três Poderes em Brasília. A facilidade com que caminhões de ruralistas aliados de Jair Bolsonaro conseguiram, na noite de 6 de setembro de 2021, romper o frágil bloqueio feito pela Polícia Militar nas vias de acesso à Esplanada ficou como uma demonstração do que não deve ser feito na próxima semana, quando uma nova manifestação de tom golpista vem sendo convocada por Bolsonaro e seus apoiadores.
Imagens de vídeo da época mostram que após o rompimento tranquilo da primeira faixa de proibição, no início da Esplanada, por muito pouco os veículos não conseguiram avançar até a frente do STF (Supremo Tribunal Federal), o que deixaria o prédio inteiramente ao alcance de ataques.
O que separou os veículos do prédio do STF, a uma distância de menos de um quilômetro, foi apenas uma outra tênue barreira da PM feita por policiais e barreiras de plástico. Somente por uma decisão sensata de alguns manifestantes é que os caminhões acabaram parados na própria Esplanada — dando início, aliás, a um longo acampamento cuja ordem de desmontagem também gerou desgaste para os órgãos de segurança do DF.
Um comentário recorrente entre os órgãos envolvidos na segurança deste 7 de Setembro é que as brechas de 2021 não podem se repetir e que neste ano o rigor no controle do tráfego de veículos e pessoas deverá ser muito maior, de acordo com dois participantes dessas conversas que falaram à Agência Pública sob a condição de não ter os nomes publicados. Em reunião nesta quinta-feira (1), de acordo com essas fontes, representantes dos manifestantes novamente pediram autorização para se posicionar, na tarde do dia 7, na frente de prédios públicos como o STF (Supremo Tribunal Federal) e o Congresso Nacional, mas receberam uma sonora negativa da SSP (Secretaria de Segurança Pública) do DF. Foi reiterada a decisão de bloquear os manifestantes perto do Itamaraty e de proibir a entrada de caminhões na Esplanada.
Embora não seja possível prever a força e o tamanho da manifestação da próxima quarta-feira (7), a preocupação de que as cenas de 2021 não se repitam é compartilhada pelas autoridades dos tribunais superiores. A pelo menos um interlocutor, o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Fux, disse que já telefonou para o governador Ibaneis Rocha para insistir nesse ponto: nenhum caminhão pode entrar na Esplanada e o governo local, ao contrário do que ocorreu no ano passado, deve tomar todas as medidas necessárias para impedir o acesso.
Numa entrevista ao jornal “O Globo” no último dia 21, Fux disse que o 7 de Setembro passado foi o momento “mais delicado” do seu período na presidência do tribunal. Ele tomou posse em setembro de 2020 e deverá ser sucedido no próximo dia 10 pela ministra Rosa Weber. “Esperávamos que os manifestantes chegassem no dia 7. Eles nos surpreenderam chegando no dia 6. Havia um número expressivo de pessoas, muitos caminhões. Havia veladamente uma informação de que tentariam chegar perto do Supremo. Um grupo radical falava em invadir o Supremo. Posso diagnosticar este como o momento mais delicado. Tivemos que passar a madrugada acordados e vigilantes para que não houvesse nenhum incidente.”
STF aumentará em 70% agentes de segurança
A Pública apurou que o STF aumentará em 70%, na comparação com o ano passado, a presença dos agentes de Polícia Judicial mobilizados pelo tribunal no próximo dia 7 – o número dos agentes não é divulgado. Um reforço de agentes será deslocado do STJ (Superior Tribunal de Justiça) e do TRT (Tribunal Regional do Trabalho). Os agentes, que atuam como seguranças das instalações e autoridades do Judiciário da União, legalmente podem usar armas de fogo, como pistolas e carabinas, e também toda a série de armas menos letais, como taser, spray de pimenta e gás lacrimogêneo.
A pedido do STF, a PM deixará mobilizado dentro do tribunal uma equipe do Batalhão de Choque, que só entrará em ação para impedir ou reprimir algum ataque direto ao prédio. Voos de drones, com algumas exceções, são proibidos em toda a Esplanada. Caso algum desobedeça a vedação, o controle do drone invasor poderá ser hackeado para fazê-lo pousar em segurança. O dono do aparelho será identificado e punido. Em 15 de junho, um drone com fezes foi usado contra a plateia que acompanhava um discurso do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Uberlândia (MG).
Nas últimas semanas, representantes de diversos órgãos públicos da Esplanada têm intensificado as reuniões para acertar os detalhes do plano de segurança do 7 de Setembro. Participam servidores da SSP, da Polícia Militar, da PRF (Polícia Rodoviária Federal), do Corpo de Bombeiros, da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), do Congresso Nacional, entre outros, e também dos órgãos que são notoriamente alvos dos manifestantes pró-Bolsonaro, como o STF e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Por outro lado, as reuniões são acompanhadas também por gente do coração do Palácio do Planalto, como o GSI (Gabinete de Segurança Institucional), comandado por um ardoroso defensor de Bolsonaro, o general reformado Augusto Heleno.
Nas reuniões, ficou definido que caminhões não poderão se aproximar da Esplanada, com exceção talvez de um ou dois caminhões de som. Foram oferecidos aos caminhoneiros pelo menos dois lugares para estacionamento. Resta a dúvida, porém, sobre os 28 tratores que já estão com seu acesso permitido pelo Palácio do Planalto e pelo Ministério da Defesa para participarem do desfile militar da manhã do dia 7 (as manifestações bolsonaristas estão previstas para a tarde, a partir das 13h00). Em tese, esses tratores, trazidos a Brasília por ruralistas aliados de Bolsonaro, deverão deixar a Esplanada logo após o desfile.
Caravanas pró-Bolsonaro
Até o momento, sete grupos — e uma pessoa que se identificou como Valdemir Soares de Souza — protocolaram no governo do Distrito Federal uma autorização para promover manifestações na tarde do dia 7, todos a favor de Bolsonaro, segundo o Governo do DF. Eles foram registrados pelo GDF da seguinte forma: “Caravana de integração nacional”, “Brasil independente”, “Brasil unido pelo presidente”, “Manifestação em defesa da liberdade e eleições transparentes”, “Ato público com oração pelo Brasil”, “Manifestação popular” e “Manifestação em defesa da democracia e liberdade”.
A Pública solicitou a lista dos responsáveis de cada um desses grupos, mas a SSP informou que os nomes não são públicos.
Integrantes do grupo formado pelos órgãos de segurança divergem sobre a potencial agressividade do ato previsto para a tarde do dia 7. Um dos integrantes ouvido pela Pública disse que ele deverá ser mais ameno que o do ano passado, qualificando-o como “mais eleitoreiro”; outro diz que a mobilização nas redes sociais tem se mostrado semelhante ou até maior do que a do ano passado e que os ataques às instituições prosseguem no mundo virtual, o que provoca de novo um alerta vermelho. Além disso, cita a ocupação de 100% da rede hoteleira em Brasília, mesmo índice de 2021. A SSP, por outro lado, trabalha com a informação de que não haverá tantos caminhões em caravanas vindas de outros Estados, como Mato Grosso e Goiás, ao contrário do que ocorreu no ano passado.
Nos arredores de Brasília, diversos outdoors foram espalhados para convocar as pessoas à manifestação do dia 7 com mensagens de cunho golpista. A Pública contou pelo menos cinco com a inscrição: “É agora ou nunca”. Uma variação diz “a segunda independência”. São painéis anônimos, atribuídos genericamente a “brasileiros”. Segundo a Folha de S. Paulo, eles foram pagos por um “grupo bolsonarista ligado a ruralistas” denominado “Movimento Brasil Verde e Amarelo”, que diz representar associações e sindicatos rurais. No ano passado, o grupo dirigiu ataques ao STF e ajudou a organizar a manifestação do dia 7.
De acordo com o jornal, um dos expoentes do grupo é Antônio Galvan, filiado ao PTB, presidente licenciado da Aprosoja (Associação Brasileira dos Produtores de Soja) em Mato Grosso e alvo de um inquérito aberto pelo STF sobre atos antidemocráticos.
Fonte: Publica