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Àlbum sai nesta sexta (19) com as canções de amor e autoajuda de sempre junto a discursos do líder dos direitos civis. União forçada compromete boa produção e ótimos convidados; leia crítica. Justin Bieber em foto de divulgação do disco 'Justice'DivulgaçãoJustin Bieber anunciou "Justice", seu sexto álbum, com um texto sobre a "busca por justiça para a humanidade". Uma fala de Martin Luther King Jr. abre a primeira música, e depois ainda há outro discurso do líder da luta pelos direitos civis. Mas a casca de ativismo social cobre o recheio de sempre, com pop romântico e drama individual. A relação entre a luta pelos direitos civis e as desventuras amorosas de Justin Bieber é um mistério que as 16 faixas em 45 minutos não esclarecem. A mistura do álbum lançado nesta sexta (19) é tão indigesta que é difícil superar o choque para avaliar outros aspectos do álbum. Mas, já que o tema é "Justice", vamos ao tribunal. Aqui começamos com a defesa:A boa produção, assinada por um time de nove nomes, incluindo Andrew Watt, vencedor do Grammy 2021, e Finneas, irmão de Billie Eillish. O R&B e o pop oitentista com brilho parecem uma versão matinê do último disco do The Weeknd, como na classuda "Deserve you". Ótimos convidados. Além do time de produtores e autores, há "feats" com Chance The Rapper, Khalid, Daniel Caesar, Burna Boy e outros. Eles mandam tão bem que fica chato para Justin na comparação, mas ao menos são faixas boas. O empenho de Justin em emular o melhor da música negra dos EUA - o gospel de "Holy" e a balada soul-pop "Peaches" dão até uma liga possível com os discursos de Luther King. Há composições e até interpretações legais como "As I am", com Khalid, simples e dançante. Biber esboça autocrítica masculina, mas joga a salvação para a amada (meio "sertanejo arrependido"): "Você estava lá por mim quando fui egoísta / rezou por mim quando não tive fé".Justin BieberDivulgaçãoMas há defeitos fortes de acusação:A tal desunião entre ativismo e romantismo teen. "2 Much" abre com a famosa frase “Injustiça em algum lugar é uma ameaça à justiça em todos os lugares” e cai para versinhos românticos pouco inspirados: "Amo o jeito que você ama sua mãe". E piora. Há uma faixa inteira, “MLK interlude”, com um discurso de arrepiar de Luther King sobre a coragem de lutar por justiça. Aí vem “Die for you”, syntypop simpático sobre beijos mortais e a disposição por morrer de amor. Qual a relação? Justiça amorosa? Mistério...Às vezes rola muito drama para pouca consistência. "Unstable" é daquelas faixas climáticas com melodia que vai do nada ao lugar nenhum e deixa a dúvida: Ele está cantando para uma namorada, para uma psicóloga ou para Deus?A ala do drama individual tem até coisas legais como "Hold on", pop autoajuda chiclete, mas versos como "Comprei um castelo na França / É o mesmo que fiz na areia quando tinha dois anos", de "Loved by you". O pobre garoto rico consegue esfriar uma faixa com voz de Burna Boy, o pungente nigeriano.Justin Bieber na capa de 'Justice', seu sexto álbumDivulgação"Lonely", última faixa, eleva ao máximo o drama do milionário privilegiado - a produção de Finneas e Benny Blanco já é privilégio . Ali dá para ouvir um sentimento mais real, na voz e na letra:"Talvez seja o preço a pagar / pelo dinheiro e a fama com pouca idade / e todo mundo me viu doente / e eu sentia que ninguém dava a mínima / eles criticavam as coisas que eu fazia como um garoto idiota / O que você faria se tivesse tudo / Mas ninguém para ligar?". Finalmente, no meio do arranjo eletrônico esquisito e hipnótico, tem um drama de verdade - ainda mais com a referência à saúde após ele revelar o diagnóstico da doença de Lyme. Se o disco partisse de "Lonely" em vez de acabar com ela, talvez fosse a um lugar melhor. Ou talvez pudesse partir de "Love you different", com clima leve que lembra o Bieber moleque do seu melhor álbum, "Purpose" (2015). Mas ele fica longe da sua obra-prima. Justiça seja feita, é bem melhor que "Changes" (2020). Até porque, na era dos protestos antirracismo e da pandemia, não ia colar um refrão pueril tipo "yummy, yummy, yummy". Ele até leu bem o ambiente, mas é difícil não condenar a invasão forçada de "Justice".VÍDEOS: as novidades do entretenimento no Semana Pop: