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intolerância religiosa

Mulheres kaiowá e guarani defendem repórter ameaçado por denunciar intolerância religiosa

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No último dia 27 de outubro, comemoramos a publicação da primeira videorreportagem do Projeto Microbolsas Indígenas – um concurso de pautas, realizado há dez anos pela Agência Pública, em que os vencedores recebem bolsas e o apoio de um editor e de outros profissionais da Pública para fazer as reportagens propostas. Pela primeira vez, neste ano, fizemos um concurso destinado exclusivamente a comunicadores indígenas – jornalistas, documentaristas, coletivos de comunicação – interessados em mentoria de jornalismo investigativo.

Uma das cinco pautas escolhidas no processo de seleção coordenado pelo antropólogo e jornalista Spensy Pimentel, resultou, ao cabo de seis meses de trabalho, no vídeo “Pyaegua – o povo Kaiowa e Guarani reage à intolerância religiosa”, de autoria de Luan Iturve e Valdineia Aquino. Trata-se de uma reportagem com imagens e depoimentos fortes sobre a perseguição que sofrem as religiões indígenas na região de Dourados e Amambai no Mato Grosso do Sul.

Vítimas de intolerância religiosa e familiares de rezadeiras (nhandecy) e rezadores (nhanderu) perseguidos e dois pastores indígenas evangélicos narram no vídeo como foram e são afetados pelas entrada das igrejas neopentecostais e falam do “racismo religioso, esse mal que percorre os territórios indígenas”, como o descreve a Kuñangue Aty Guasu, a maior assembleia de mulheres Guarani Kaiowá, que há seis anos registra violências nos territórios Guarani e Kaiowá no Cone Sul de MS, incluindo a queima de casas de rezas, também retratadas no vídeo de Luan e Valdineia. Segundo um relatório publicado neste ano pela Aty Guasu, durante a pandemia no governo Bolsonaro, os crimes de ódio religioso se multiplicaram.

Assim que publicamos o teaser do vídeo e um convite de Luan para que as pessoas vissem a reportagem nas redes sociais, entre muitos elogios, começaram a pipocar comentários negativos por parte de membros de uma das igrejas evangélicas. O que gerou a reclamação foi menos de um minuto de imagens gravadas durante um culto, sem câmera oculta ou qualquer tipo de artifício, em que não há denúncias ou acusações.

Por isso, conversamos com os repórteres e mantivemos o vídeo no ar até que as ameaças começaram a chegar diretamente no celular de um deles. Alertamos o Ministério Público Federal e retiramos o vídeo do ar para garantir a segurança de ambos, pelo menos até que o caso seja esclarecido.

Ontem, no fim da tarde, a Kuñangue Aty Guasu enviou uma nota detalhada sobre intolerância religiosa – que será alvo de novo relatório, a ser lançado em novembro, em parceria com a ONU Mulheres – e em defesa do trabalho e da segurança de Luan Iturve e Valdinéia Aquino. “É uma situação que se agrava em todos os territórios indígenas Kaiowá e Guarani e tem impactos violentos em nosso modo de ser, costumes e tradições, demonizando os mesmos e, como consequência, acontecem as violências, queima de casas de rezas, perseguições, e outros fatos denunciados nos documentos divulgados. É, acima de tudo, um projeto do Estado brasileiro para seguir com suas políticas coloniais e de morte contra os povos indígenas. Repudiamos qualquer ameaça, perseguição e violência aos nossos comunicadores indígenas”

Clique aqui para ler a íntegra da nota da Kuñangue Aty Guasu.

Fonte: Publica

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